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Ciclovia do futuro: O que aconteceu ao projeto SkyCycle?

Londres teve a oportunidade de criar 220 km de ciclovias por cima das linhas de caminhos de ferro
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Superciclovia SkyCycle em Londres (fotos: Foster+Partners/DR)
Superciclovia SkyCycle em Londres (fotos: Foster+Partners/DR)

Norman Foster idealizou para Londres um conjunto de ciclovias futuristas que se elevavam acima das congestionadas estradas e da preenchida linha de metro. O projeto SkyCycle, lançado no início de 2014, consistia em 220 quilómetros de ciclovias suspensas a cruzar Londres, mas não avançou. O que aconteceu?

As ciclovias são uma solução simples de descarbonização da mobilidade urbana e podem contribuir para uma maior aproximação das pessoas ao comércio local, promovendo um melhor ambiente e contacto social.

Foster imaginou uma super ciclovia em Londres com 15 metros de largura, cerca de 200 pontos de entrada e/ou saída e capacidade de circulação em exclusivo de mais de 12 mil ciclistas por hora em cada um dos 10 segmentos, de forma segura e suspensa maioritariamente sobre as linhas ferroviárias da cidade.

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Superciclovia SkyCycle em Londres (fotos: Foster+Partners/DR)

O projeto da Foster and Partners contou desde início com o apoio da National Rail and Transport of London (NRT) e projetava um impacto positivo em 6 milhões de pessoas e ganhos de até 29 minutos nos habituais trajetos urbanos.

“O ciclismo é uma das grandes paixões e esta é uma forma de encontrar espaço numa congestionada cidade” – revelou Lord Foster em entrevista ao The Guardian, em 2014

A ligação aos caminhos de ferro poderia permitir que um ciclista entrasse, por exemplo na Gare du Nord em Paris e descesse do comboio diretamente para a SkyCycle sem necessitar de outro meio de transporte que não a sua própria bicicleta.

Os acessos seriam compostos por rampas ou plataformas hidráulicas verticais que permitiriam aproveitar estruturas já existentes.

Porque falhou a SkyCycle?

O projeto, no desenho, é fantástico, mas houve dois fatores em especial que podem ter sido determinantes para não arrancar com o projeto.

Quando em 2012 o gabinete de Foster, com o apoio da Exterior Architecture (espaço envolvente) e da Space Syntax (planeamento urbano) lançaram mãos à obra já existiam planos para incrementar o espaço ciclável em Londres até 2022. Mas havia uma questão: orçamento.

Contas feitas pela imprensa londrina à época davam como investimento necessário qualquer coisa como 34 milhões de libras (39,6 milhões de euros) por quilómetro. Os custos totais da SkyCycle poderiam atingir o astronómico número de 7,5 mil milhões de libras (8,7 mil milhões de euros ao câmbio atual).

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Superciclovia SkyCycle em Londres (fotos: Foster+Partners/DR)

O problema? O orçamento total de Londres para o período entre 2014 e 2022 ascendia a cerca de 913 milhões de libras (fonte: BBC). Com custos desta ordem, ninguém iria aprovar sequer um quilómetro experimental. Mas e se existissem financiamentos em prol do bem-estar local?

A grande vantagem de uma ciclovia é também permitir mobilidade urbana e melhor acesso das pessoas a centros e locais atualmente congestionados. Esse acesso pode revitalizar pequenos comércios e potenciar pontos de encontro da sociedade melhorando a qualidade de vida nas cidades. E isto era um problema no projeto da SkyCycle.

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Superciclovia SkyCycle em Londres (fotos: Foster+Partners/DR)

A SkyCycle, como foi pensada essencialmente sob as linhas de comboio, teria um caráter mais fechado. Os utilizadores iriam utilizá-la do ponto A ao ponto B, mas não necessariamente beneficiar a economia local. Na verdade, as bicicletas estavam a ser segregadas para uma supervia, de fácil escoamento, mas fora da vida da cidade.

Os críticos em Londres venceram com estes argumentos e o projeto foi abandonado. Em 2016 estava em definitivo colocado de parte, mas Londres pode ter perdido a oportunidade de ter a verdadeira ciclovia do futuro.

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