O mundo ocidental lamenta a perda de Mikhail Gorbachov, que ontem, 30 de agosto, faleceu em Moscovo, aos 91 anos. O último presidente da União Soviética foi um dos políticos mais influentes dos finais dos anos 1980 e princípio dos anos 1990, mas as suas ações não se ficaram pela implementação de grandes políticas reformistas. Gorbachov desempenhou também um papel de relevo no âmbito da sustentabilidade.
Enquanto os principais líderes mundiais – de Guterres a Biden ou de Macron a von der Leyen, entre tantos outros – manifestam o seu apreço por Gorbachov, sobretudo pela forma como o estadista mudou o destino do mundo, ao contribuir de forma decisiva para o fim da Guerra Fria e para a aproximação entre ocidente e oriente, há uma outra faceta do seu percurso, talvez menos conhecida, que importa destacar.
Mikhail Gorbachov foi responsável pelo lançamento das bases para a integração de políticas de sustentabilidade na governação.
A face mais visível do seu compromisso para com um futuro mais sustentável foi a assunção em 1993 ao cargo de presidente-fundador da recém-criada Cruz Verde Internacional, dois anos após deixar o gabinete de presidente da URSS.
“A civilização que existe há séculos começa a esgotar o seu potencial e já não é capaz de preservar e melhorar a vida na Terra”, alertava Gorbachov em 1993, citado pelo Los Angeles Times. “Pela primeira vez, vemos uma ameaça à própria existência da raça humana. Pela primeira vez, vemos sinais de perigo para a própria estabilidade da biosfera”, completava.
Alguns anos antes, ainda como chefe de estado da antiga União Soviética, Gorbachov alertava para as ameaças que a humanidade e a Terra enfrentam devido a armas nucleares, armas químicas, desenvolvimento insustentável, e a dizimação da ecologia do planeta induzida pelo homem.
Em 1990, o político russo decidiu então expressar de forma mais clara a sua visão, ao sugerir que o mundo necessitava de um organismo que aplicasse às questões ecológicas o modelo de resposta médica de emergência da Cruz Vermelha, assim como acelerasse as soluções para os problemas ambientais que transcendem as fronteiras nacionais.
Menos de um ano após a Cimeira da Terra que teve lugar no Rio de Janeiro em 1992, foi formalmente criada em Quioto, Japão, a Cruz Verde Internacional. Estávamos no dia 18 de Abril de 1993.
Atualmente, a rede da Cruz Verde opera em quase 30 países e é uma organização consultiva das Nações Unidas em matérias de Alterações Climáticas e de Combate à Desertificação. A sua missão, pode ler-se no website oficial, é responder aos desafios da segurança, da pobreza e da degradação ambiental por forma a assegurar um futuro sustentável e seguro, encontrando soluções através do diálogo, da mediação e da cooperação.
A sua atividade concentra-se na implementação de três iniciativas: educação para a sustentabilidade ambiental; promoção dos valores da Carta da Terra; organização dos Diálogos da Terra.