A defesa do ambiente não tem género, mas nos últimos anos, em particular com a mediatização em torno de Greta Thunberg, a verdade é que têm existido vários protestos e manifestações contra as alterações climáticas onde as mulheres tem um papel de destaque.
Mas esse protagonismo coloca-as também na mira daqueles que não querem o tema debatido, ignoram a eminente catástrofe ambiental ou ainda todos os que não querem que os protestos chamem a atenção para objetivos exclusivamente político-económicos.
Um estudo (disponível para consulta aqui) revelado pela Natura Sustainability vem demonstrar que, nas últimas décadas, foram assassinadas 81 mulheres por defenderem o ambiente e identificados 523 casos em que estiveram envolvidas defensoras ambientais, concentrados na extração e recursos, agricultura e indústria.
Para além destes atos há ainda ataques de vária ordem, que incluem, entre outros, deslocações forçadas, perseguição judicial e até assédio físico. O problema é mais grave na América Latina, Ásia e África, mas também ocorre na América do Norte e inclusive na Europa.
O estudo, publicado pela Universidade Autónoma de Barcelona, foi liderado pelas investigadoras Dalena Tran (Instituto Ambiental de Ciência e Tecnologia em Barcelona) e Ksenija Hanaček (Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Helsínquia). As autoras identificaram 19 assassinatos ocorridos nas Filipinas, sete na Colômbia e no Brasil, seis no México, quatro na Guatemala e no Peru, dois no Reino Unido e no EUA e um, mesmo aqui ao lado, em Espanha.
As investigadoras revelam que isto é sinal preocupante apontando para a necessidade de abordar a violência sistémica que incide sobre as mulheres defensoras do ambiente que, com frequência, “não é denunciada”, mas também deixam expressa preocupação com a perpetuação da violência contra as comunidades indígenas, minoritárias, pobres e rurais.
De acordo com o estudo, estes conflitos tem especial impacto quando as manifestações ocorrem em locais onde os projetos de extração de recursos naturais para exportação implicam a expulsão de comunidades das suas terras e a destruição ecológica, o que ameaça a existência cultural e física daquelas comunidades.
Quando os defensores ambientais que se enfrentam a represálias violentas são mulheres, os incidentes não costumam ser documentados, por censura e falta de informação, em locais remotos ou de difícil existência de liberdade de expressão. Desta forma a violência contra as mulheres está subestimada em grande medida.
Dalena Tran e Ksenija Hanaček, examinaram os casos disponíveis até janeiro de 2022 no Mapa Mundial de Justiça Ambiental (acede aqui), que recenseia conflitos relacionados com água, combustíveis fósseis, agricultura e desflorestação.