Este ano de 2020 marca as bodas de ouro, não de um, mas, de dois modelos icónicos da Citroën. Há 50 anos surgia o luxuoso e vanguardista SM e, uns meses depois, o mais acessível e familiar GS.
Cada um no seu lugar, cada um com um público respetivo na altura; ambos agora de parabéns, ambos agora dignos de retrospetiva.
Com inspiração na imagem e na tecnologia do histórico Citroën DS, o ‘Projeto S’ para criar um veículo desportivo na mesma linhagem – com as 24 Horas de Le Mans em mira – transformou-se em pouco tempo no trabalho de produção de um carro de prestígio acima do famoso Boca de Sapo (ainda em produção na altura).
Começava assim a nascer o Citroën SM, tendo por base o chassi com a famosa suspensão hidráulica do DS e aproveitando a compra da Maserati pela fabricante francesa para dotar esse novo Grand Tourisme de um moderno motor V6.
Sob o longo capô do SM, o V6 a 90° Maserati apresentava duas árvores de cames por bancada de cilindros. A cilindrada foi deliberadamente limitada a 2.670 cc para ficar abaixo da penalizante barreira de 16 cavalos de potência fiscal então em vigor em França.
Particularmente compacto (31 centímetros de comprimento) e muito leve (140 kg), o bloco em liga leve é inicialmente alimentado por três carburadores Weber de duplo corpo, desenvolvendo uma potência de 170 cavalos às 5.500 rpm – posteriormente, recebeu um sistema de injeção eletrónica de combustível aumentando a potência para 178 cavalos.
A inovadora direção do Citroën SM – designada DIRAVI (DIrection à RAppel asserVI, ou seja, ‘direção assistida com memória’) – ficava mais pesada com o aumento da velocidade graças a um controlador hidráulico montado na extremidade da caixa de direção. Esta direção era particularmente leve e direta em cidade e mais estável a altas velocidades.
Tal como o DS, o SM contava com dois faróis exteriores rotativos de longo alcance. Mas não só: os seus faróis de halogéneo passaram a ter um conjunto de placas que ajustavam automaticamente a altura dos faróis de acordo com o comportamento do carro.
A estampagem e montagem das carroçarias era realizada na fábrica de Chausson de Gennevilliers. Depois de finalizadas, as carroçarias eram transportadas de camião para as instalações de Quai de Javel para a montagem final nas mesmas linhas de produção do DS.
As linhas exteriores de uma vanguarda que contagiava o interior futurista – dos mostradores ovalizados ao pedal de travão em forma de cogumelo – tornaram este poderoso GT de tração dianteira um objeto de culto, que foi feito por figuras mundiais desde Leonid Brezhnev a Johan Cruijff.
Entre 1970 e 1975 foram produzidas 12.920 unidades deste modelo icónico. O Citroën SM foi apresentado no Salão de Genebra há 50 anos, no mesmo ano em que, meses depois, foi também apresentado, no Salão de Paris, o Citroën GS.
Um carro familiar de gama média com cinco lugares, de estilo aerodinâmico, com
uma nova mecânica de 4 cilindros opostos, a suspensão hidráulica característica da Citroën, ou os travões de disco às 4 rodas eram os argumentos que o GS trazia juntamente com a originalidade do travão de estacionamento com uma alavanca incorporada ao centro no tabliê ou o velocímetro rotativo com um visor dotado de lupa.
Numa existência marcada por várias evoluções ao nível da carroçaria (incluindo a versão Break) e da mecânica (cilindrada, caixa de 5 velocidades, transmissão C-Matic), o GS teve como seu descendente o GSA a partir de 1979 – com novidades como os para-choques em material sintético ou a tomada de ‘diagnóstico’ sob o capô, que permitia várias afinações e controlos: tensão da bateria no arranque, ângulo e simetria das árvores de cames, regime mínimo do motor (ralenti), etc.
Carro do Ano em 1971, o Citroën GS teve quase 2,5 milhões de unidades construídas entre 1970 e 1987 (incluindo a versão GSA).
Os icónicos e cinquentenários SM e GS estão em destacada exibição no stand da Citroën no Salão Rétromobile 2020, que abriu nesta quinta-feira em Paris.