Um estudo realizado por investigadores da Universidade de Oviedo, nas Astúrias, identificou naquela província do Norte de Espanha quatro exemplares da vespa soror, considerada mais perigosa que a vespa asiática, que entrou na Europa, por França, em 2004.
O estudo, cujas conclusões foram divulgadas, no início do mês, na revista Ecologia e Evolução, permitiu detetar, entre março de 2022 e outubro de 2023 quatro vespas soror obreiras que terão chegado à região como “passageiras” em contentores de transporte de mercadorias.
A sua entrada na região terá sido facilitada porque as rainhas fertilizadas passam parte do ano, sobretudo durante condições meteorológicas adversas, escondidas, usando como abrigo algum material ou recipiente que os humanos podem transportar despercebidos para longe da localidade original desta espécie, as regiões mais quentes da Ásia.
O trabalho que visava estudar as espécies afetadas pela vespa asiática, nas Astúrias, acabou por revelar a primeira ocorrência da vespa soror ['southern giant hornet' - vespa gigante do sul] na Europa, comprovada por “análises morfológicas e genéticas”.
“Os nossos resultados preliminares levantam preocupações sobre a ameaça potencial da vespa soror na saúde humana e na dinâmica do ecossistema, pois é uma espécie altamente predadora de outros insetos e até mesmo de pequenos vertebrados”, assinalam os investigadores na conclusão.
Os investigadores reiteram “a utilidade do estudo dos insetos capturados nas armadilhas colocadas para a captura das vespas velutinas, que permita “uma deteção precoce de espécies invasoras” e “uma resposta rápida” para as combater.
“A sua presença na região Norte da Península Ibérica, onde a invasora vespa velutina [asiática] é disseminada, pode ter um efeito cumulativo aumentando os danos ambientais, económicos e até mesmo à saúde pública”, lê-se no estudo.
Para os investigadores, por ser ainda “escassa” a sua presença na região, deve ser elaborado “um plano de resposta rápida para localizar os ninhos”, e avançar com a sua “erradicação”.
Como identificar a vespa soror?
A soror apresenta “uma coloração peculiar”, sendo que “ambos os sexos são tricolores, com áreas pretas, castanho-escuro, castanho-claro e amarelas”.
A espécie possui uma cabeça “excecionalmente grande” e é “um predador agressivo que caça invertebrados de vários tamanhos, incluindo borboletas, libélulas, louva-a-deus e gafanhotos, bem como outras vespas e até mesmo pequenos vertebrados como lagartixas”.
As vespas soror obreiras medem 35 milímetros(mm) e as rainhas 46 mm. Já as soror comuns não chegam a 10 mm.
Pode “gerar problemas de saúde, pois a picada é muito dolorosa e produz efeitos duradouros, provavelmente por ter um veneno potente”.
“Assim, a vespa soror pode transformar-se numa causa importante de complicações médicas, especialmente durante os meses de setembro a dezembro, período anterior ao aparecimento dos machos e das novas rainhas, quando as colónias se tornam grandes e muito defensivas”, lê-se no estudo.
Segundo os investigadores, outra explicação para sua entrada nos territórios está relacionada com o número reduzido de vespas necessário para se estabelecerem.
“Uma vez fornecidas as condições ambientais adequadas, basta que uma ou algumas rainhas fertilizadas cheguem em segurança e sobrevivam ao período mais difícil, até a eclosão das primeiras operárias, como aconteceu na Europa com vespa velutina”, adianta.
A maioria das colónias desta espécie “é encontrada em áreas florestais, em altitudes que variam do nível do mar a mais de 700 metros de altitude”.
O ninho “geralmente está localizado no subsolo, frequentemente bem drenado de uma encosta, com o buraco de entrada cavado para baixo na superfície do solo, e frequentemente localizado entre raízes de grandes árvores”.
“Alguns ninhos ficam bem próximos da superfície, apenas alguns centímetros abaixo do solo, mas outros ficam bem no subsolo, com um ou mais túneis que podem ter 60 centímetros ou mais de comprimento, entre o ninho e a entrada”, adianta a investigação.
“Isso pode se tornar um problema se essa espécie se espalhar pelo Norte da Espanha, pois, como no caso de vespa velutina, o primeiro fator para seu controle efetivo é a remoção de seus ninhos após a deteção. Se os ninhos da vespa soror estiverem no subsolo, pode representar uma complicação adicional no momento de sua busca, deteção e eliminação”, refere.
Portugal sem registo de presença da vespa soror
O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (INCF) disse que, até à data, não foi detetada a presença de vespa soror em Portugal.
Em resposta, por escrito, a um pedido de esclarecimentos da agência Lusa a propósito de um estudo da Universidade de Oviedo, que apresenta o primeiro registo europeu [quatro exemplares] da presença da vespa soror no concelho de Siero, nas Astúrias, o ICNF adianta estar a fazer “uma vigilância ativa, definida no Plano de Ação para a Vigilância e Controlo da vespa velutina [também conhecida como vespa asiática] em Portugal”.
Segundo o ICNF, através daquele plano “é ainda possível fazer vigilância preventiva na deteção de outras espécies de grandes vespas, como é o caso da vespa soror”.
A Associação Apícola de Entre Minho e Lima (APIMIL) apelou às autoridades nacionais que tomem “ações concretas e bem dirigidas” contra a ameaça de invasão de uma nova vespa, mais perigosa do que a asiática.
O presidente da APIMIL, Alberto Dias, referiu que, apesar de não haver registo da presença da vespa soror em Portugal, “a proximidade” do Alto Minho com a Galiza, onde a espécie também ainda não foi detetada, “deve fazer acender as luzes vermelhas e tocar as campainhas”, para não se repetir a “praga” da vespa asiática.
O ICNF garante estar “atento ao potencial aparecimento desta espécie em território nacional e está já a alertar as entidades municipais para o eventual aparecimento desta espécie, bem como da vespa orientalis, cuja presença está a aumentar no sul de Espanha”.
O instituto pede que, em caso de observação de vespa soror ou da vespa orientalis, a mesma seja reportada para o endereço eletrónico vespa@icnf.pt.