Numa altura em que os países procuram substituir o petróleo, gás e carvão russos por qualquer outra alternativa disponível, António Guterres, o secretário-geral das Nações Unidas alerta para o perigo que isso pode significar para o planeta e para o aquecimento global.
Foi num discurso para o The Economist Sustainability Summit que António Guterres abordou a temática do impacto da guerra no clima e no mercado energético.
Em vídeo, António Guterres discursou referindo que a guerra russa na Ucrânia põe em risco os mercados de alimentos e de energia mundiais “com graves implicações para a agenda do clima global”.
O alerta foi direto: António Guterres receia que a necessidade imediata de acesso a combustíveis fósseis pode fazer com que os países se tornem ainda mais dependentes do petróleo, gás e carvão e acabem por esquecer as políticas para fazer a transição para energias mais verdes. Para o secretário-geral, esta corrida é uma “loucura”.
“Como os eventos atuais tornam bastante claros, a nossa dependência nos combustíveis fosseis põe a economia global e a segurança energética à mercê de choques e crises geopolíticas”, disse António Guterres, concluindo que a melhor maneira de se lidar com o problema é apostar em força nas energias renováveis.
Como se mantém o objetivo de 1,5 graus vivo?
Apesar de abordar a invasão da Ucrânia, o discurso foi focado no aquecimento global e em como se pode manter o objetivo de limitar o aumento anual da temperatura média global a menos de 2ºC acima dos níveis pré-industriais e a fazer esforços para limitar a 1,5ºC do Acordo de Paris vivos.
António Guterres não deixou de referir que, apesar dos progressos que se alcançaram em Glasgow, durante a COP26, não se resolveu o problema das emissões globais que continuam a aumentar de ano para ano e que o objetivo de manter a temperatura a 1,5ºC, conforme definido no Acordo de Paris, está em “suporte de vida, está nos cuidados intensivos”.
“O nosso planeta já aqueceu 1,2 graus e já vemos as consequências devastadores por todo o lado. […] Senhoras e senhores, se continuarmos com mais do mesmo, podemos dizer adeus aos 1,5 graus. Até [a subida de] 2 graus pode estar fora do nosso alcance”, referiu o antigo primeiro-ministro português.
Ainda assim, o secretário-geral da ONU acredita que é possível travar o aquecimento global. Para tal, é preciso acelerar o fim do carvão e dos combustíveis fósseis, reforçar os compromissos climáticos, apostar na descarbonização e nas energias alternativas e protege os mais vulneráveis.
“Só assim podemos tirar o objetivo dos 1,5 graus do suporte de vida para a sala de recobro”, concluiu.