Seca no Corno de África é uma das maiores emergências provocadas pelo clima dos últimos 40 anos e está a pôr em risco a vida de 20 milhões de pessoas da Etiópia, Quénia, Somália e Eritreia. O alerta é dado pela Unicef que pede 110 milhões de euros para apoiar as comunidades locais até junho de 2022.
Num documento regional de pedido de ação lançado em fevereiro, a Unicef explica que as condições de La Niña fizeram com que, desde 2020, tenha chovido menos do que o esperado, o que está a provocar a seca e a crise hídrica nos quatro países do Corno de África.
A falta de água tem matado o gado, acabado com as plantações e obrigado as pessoas a abandonarem a sua casa em busca de melhores condições. Só na Etiópia, até abril, já se contabilizam mais de 1,7 milhões de crianças deslocadas e mais de 500 mil menores cuja educação foi interrompida por terem de abandonar as suas residências.
Até meados de 2022, 20 milhões de pessoas, metade delas crianças, vão necessitar de assistência com água e comida.
O documento também alerta que se a seca se mantiver até maio, cerca de dois milhões de crianças vão necessitar de tratamento para a desnutrição aguda grave que as coloca em risco de vida.
À Lusa, o responsável da agência das Nações Unidas para a infância, Mohamed M. Fall, que está na Etiópia a analisar a crise humanitária, alertou que é uma situação “extremamente difícil”, com “grande número de pessoas deslocadas internamente”.
O responsável alertou ainda que, além da falta de água e alimentos, que já obrigou várias pessoas a abandonarem as suas casas em busca de melhores condições, a seca está a provocar surtos de doenças, havendo já milhares de casos de sarampo, um surto de febre amarela e a ameaça de cólera.
Também a exploração e abuso de crianças ganham forma no meio desta crise. Mohamed F. Mall refere que há relatos de crianças que são separadas das famílias durante os processos de deslocação e que estão sujeitas a casamentos infantis uma vez que o dote representa uma fonte de rendimento para as famílias.
Assim, o responsável acredita que é necessário haver uma abordagem integrada. “Quero dizê-lo para que as pessoas não pensem que é só uma questão de alimentar as pessoas ou de lhes dar água. É uma questão de lhes dar dignidade e a dignidade é fundamental para qualquer ser humano.”
Apesar da situação, Mohamed M. Fall acredita que ainda é possível reverter a crise, alertando que a Unicef, sozinha, não tem os recursos necessários para fazer face ao problema. Para tal são necessários não só fundos, como parcerias no terreno e mais mobilização de comunidades que já têm dado grande ajuda:
“Vi comunidades com recursos muito limitados a acolherem pessoas deslocadas e a partilharem o pouco que têm, o que mostra o lado mais bonito da humanidade”, partilhou com a Lusa.
Unicef apresenta programa de apoio
Em fevereiro, a Unicef apresentou o documento regional de pedido de ação em que pedia um apoio de cerca de 110 milhões de euros que iria financiar o programa de ajuda entre janeiro e junho de 2022.
Este programa está a atuar em seis vertentes: nutrição; saúde; água, saneamento e higiene; proteção de menores e violência baseada em género; educação e proteção social.
A Unicef também apresentou um plano para desenvolver a resiliência climática no Corno de África, que deverá ocorrer durante três anos, ajudando 2,8 milhões de pessoas. Para tal, pedem um apoio de 253,4 milhões de euros para os três anos.