Quanto mais estradas e vias rápidas construímos, mais entramos nos habitats de várias espécies. Dividimos ao meio zonas de caça e de interação, o que obriga os animais a fazerem-se à estrada – literalmente. Mas isto nem sempre acaba bem e já vários acidentes foram registados à conta de um ou outro animal que tentou atravessar faixas de rodagem, acabando atropelado.
De há uns anos para cá, começou a surgir uma solução: pontes para a vida selvagem. E uma das maiores do mundo vai começar agora a ser construída na Califórnia.
Chama-se Wallis Annenberg Wildlife Crossing (ponte para a vida selvagem de Wallis Annenberg) e irá atravessar dez faixas de rodagem da 101 Freeway que atravessa as montanhas de Santa Mónica, casa de pumas, linces, coiotes, répteis e outras espécies. Esta, que é uma das mais movimentadas dos Estados Unidos, já foi considerada a maior barreira para as espécies na região, uma vez que é quase impenetrável para a vida selvagem.
O facto de a 101 Freeway dividir as montanhas, faz com que se tenham criado ilhas de habitat que isolam geneticamente a vida selvagem. Isto poderá levar a extinção dos pumas na zona, a espécie em maior risco.
A construção desta ponte, que tem 64 metros de comprimentos e 50 metros de largura, irá criar um corredor para os animais poderem deslocar-se livremente na zona, sem porem em risco as suas vidas ou a dos condutores.
O projeto da ponte de Wallis Annenberg é uma parceria público-privada que junta várias organizações e instituições, como a Caltrans, a maior agência de transporte do país que gere perto de 80,5 mil quilómetros de autoestrada, o National Park Services, a National Wildlife Federation, a Santa Monica Mounstains Conservancy/Mountains Recreation & Conservation Authority e a empresa de arquitetura Living Habitats.
Para o projeto da travessia de Wallis Annenberg foi alocado um orçamento de cerca de 83 milhões de dólares, sendo que 60% deste valor vem de doações privadas – a fundação do Leonardo DiCaprio doou 277 mil euros –, enquanto o resto é de fundos públicos para conservadorismo.
Apesar de ainda não se saber qual será o impacto do projeto a nível local, a verdade é que este não é o primeiro projeto do género, e um estudo no Canada permitiu demonstrar que estas passagens para a vida selvagem fizeram diminuir em 90% as colisões de veículos com animais.
Como se projeta uma ponte para a vida selvagem
O projeto de arquitetura ficou a cargo da Living Habitats em parceria com a Caltrans e a equipa de design é apoiada por vários especialistas, desde biólogos a cientistas de solo, de forma a que se consiga criar um espaço bonito e funcional, que não choque com a paisagem e que sirva o seu propósito.
Como explicou Robert Rock, um dos arquitetos da Living Habitats responsável pelo projeto, a travessia tem não só o objetivo de servir de ponte para a vida selvagem, como também de restabelecer o ecossistema nativo da zona.
“Precisávamos reconectar as montanhas de Santa Monica de uma maneira funcional que envolvesse a restauração de processos biológicos no solo, apoiasse a vegetação local em conjunto com as metas de biodiversidade e projetasse habitats que envolvessem todo um conjunto de espécies”, explicou o arquiteto à AWAY.
Sendo a 101 Freeway uma das mais movimentadas dos Estados Unidos, foi necessário ter em consideração no projeto de design a importância de diminuir os níveis de luz e barulho na ponte de Wallis Annenberg. Para tal, com a ajuda de especialistas em luz e som, está a ser desenhada uma barreira de terra que reduza o som.
A Caltrans ficou encarregue de mudar as luzes a nível local de forma a que se mantenha a segurança na estrada, mas que não interfira com a travessia dos animais.
A construção da Wallis Annenberg Wildlife Crossing arranca em 2022 e deverá estar concluída em 2025. Robert Rock espera que este projeto sirva como “um ponto de referência. […] Que seja visto como o início de um esforço conjunto para se recompor o nosso ambiente fragmentado e que se possam desenvolver novas maneiras ainda melhores de o fazer.”
(Fotos cortesia Living Habitats)