Energia

Portugal ainda falha na reciclagem elétrica: o lixo elétrico que guardas em casa pode valer ouro

Muitos portugueses continuam a guardar equipamentos avariados em casa ou a colocá-los no lixo comum, impedindo a sua valorização e descontaminação.
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Lixo eletronico | Image by freepik
Lixo eletronico | Image by freepik
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No Dia Internacional dos Resíduos Elétricos (International E-Waste Day), que se assinala esta terça-feira, 14 de outubro, o Electrão deixa um alerta: Portugal continua distante da meta europeia de recolha de equipamentos elétricos usados.

Apesar do crescimento registado nos últimos anos, os resultados nacionais estão muito abaixo do esperado. Em 2024, foram recolhidas cerca de 57 mil toneladas de equipamentos elétricos, das quais 36 400 toneladas foram encaminhadas para reciclagem pelo Electrão. Para atingir a meta europeia de 65%, seria necessário recolher 150 mil toneladas, o equivalente a cerca de 15 quilos por habitante.

Nos primeiros seis meses de 2025, o Electrão atingiu um novo recorde, com um aumento de 57% face ao mesmo período do ano anterior e mais de 20 mil toneladas recolhidas entre janeiro e junho. Ainda assim, os números permanecem insuficientes para alcançar os objetivos europeus.

“O Electrão tem vindo a expandir a rede de recolha e a aumentar os volumes encaminhados para reciclagem ano após ano, mas os resultados continuam insuficientes. É essencial envolver todos os agentes da cadeia de valor – tutela, cidadãos, municípios, retalhistas, operadores de tratamento e empresas”, alerta Ricardo Furtado, Diretor-Geral de Elétricos e Pilhas do Electrão.

Resíduos guardados em casa e mercado paralelo comprometem resultados

Um dos principais entraves está nos hábitos de separação: muitos portugueses continuam a guardar equipamentos avariados em casa ou a colocá-los no lixo comum, impedindo a sua valorização e descontaminação. Essa acumulação doméstica e empresarial retira milhares de toneladas de materiais valiosos do circuito oficial todos os anos.

Outro problema é o mercado paralelo de resíduos elétricos, que desvia grandes quantidades de equipamentos para canais informais, onde são tratados como sucata metálica sem respeitar as normas ambientais, representando um risco para o ambiente e a saúde pública.

O Electrão defende que é urgente reforçar a fiscalização e modernizar o controlo deste circuito paralelo. Há já tecnologias de rastreabilidade acessíveis, mas ainda subutilizadas pelas autoridades.

Um exemplo é o projeto WEEE Follow, promovido pelo Electrão, que colocou dispositivos GPS em equipamentos entregues nos canais municipais para seguir o seu destino. O estudo mostrou que três em cada quatro equipamentos foram desviados do circuito formal.

“A fiscalização tem que modernizar-se. Não faz sentido que, com tecnologias de rastreabilidade disponíveis, continue a registar-se um desvio sistemático e impune. Só com uma ação mais interventiva e dissuasora será possível mudar este cenário”, sublinha Ricardo Furtado.

Reciclagem é chave para garantir matérias-primas essenciais à Europa

O alerta do Electrão surge num momento em que a reciclagem de equipamentos elétricos ganha importância estratégica para a Europa.

A procura crescente de matérias-primas críticas — como lítio, cobalto, cobre ou alumínio —, aliada às tensões geopolíticas e ao risco de escassez, torna a reciclagem essencial para assegurar a autonomia europeia na transição energética, digital e industrial.

De acordo com o relatório “Critical Raw Materials Outlook for Waste Electrical and Electronic Equipment”, elaborado pelo consórcio FutuRaM no âmbito do programa Horizonte Europa, 29 matérias-primas críticas estão presentes nos resíduos elétricos, em quase todos os equipamentos comuns.

Estima-se que, todos os anos, sejam descartadas na Europa (União Europeia, Reino Unido, Suíça, Islândia e Noruega) cerca de 1 milhão de toneladas de matérias-primas críticas que é fundamental recuperar.

“Recuperar estes materiais é absolutamente urgente do ponto de vista ambiental e de proteção da saúde humana, mas, agora, esta estratégia ganha também uma dimensão geopolítica, no sentido de garantir à Europa materiais necessários para várias indústrias. Além da reciclagem, a aposta na reparação e na reutilização devem ser igualmente prioridades”, reforça Ricardo Furtado.

Atualmente, a Europa depende de países terceiros para 90% das matérias-primas críticas que utiliza e apenas recupera 1%. O Regulamento Europeu das Matérias-Primas Críticas, aprovado em 2024, define como meta que 25% da procura anual seja satisfeita através da reciclagem até 2030.

Electrão promove ações de sensibilização em escolas e municípios

Entre o Dia Internacional dos Resíduos Elétricos (14 de outubro) e a Semana Europeia da Prevenção de Resíduos (22 a 30 de novembro), o Electrão vai dinamizar várias iniciativas de sensibilização junto de escolas, municípios e outras entidades.

As ações incluem a exibição do documentário “Para Onde Vai a Reciclagem”, campanhas de recolha, o lançamento de livros e jogos educativos, e a partilha de conteúdos nas redes sociais, para incentivar os cidadãos a entregar os equipamentos fora de uso nos locais próprios.

Com estas iniciativas, o Electrão reforça o compromisso de sensibilizar e mobilizar os portugueses para uma separação mais responsável e uma reciclagem que garanta o futuro do planeta e dos recursos.

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