Opinião
André Mendes
Concebido logo após o 25 de abril de 1974 e nascido em Lisboa, refugiou-se na Ajuda para passar o seu primeiro quarto de século. Quando a família cresceu, mudou para a outra margem do Tejo e foi viver para perto da praia e para longe do trânsito. Já teve dois filhos, plantou uma árvore e escreveu milhões de carateres desde que entrou no mundo do jornalismo automóvel há mais de 20 anos, porque conduzir é uma das suas maiores paixões.

A mobilidade e a preguiça

Mais um dia, mais uma ideia para o mundo da mobilidade urbana. Mas quantas delas é que, na realidade, conseguem responder a necessidades individuais?
Texto
Padrao dos Descobrimentos (Foto: divulgação)
Padrao dos Descobrimentos (Foto: divulgação)

A mobilidade urbana é um gigante novo mundo que, mais do que uma necessidade, está na moda. De um momento para o outro, parece que todos os dias conheço uma nova ideia, uma nova solução, uma nova alternativa que vai mudar o meu dia. No entanto, como não moro no centro de uma cidade, vejo-me obrigado a torcer o nariz a algumas das propostas que vou conhecendo.

Por exemplo, se digitarmos apenas “Lisboa” nos mapas no Google, somos levados para o Campo dos Mártires da Pátria, uma posição geográfica a que podemos chamar o centro da cidade e que fica a pouco mais de 15 quilómetros do local onde vivo, nada de outro mundo. No entanto, nesta distância tenho um rio para atravessar, o que poderá dificultar o trajeto, mas a principal dificuldade começa a assim que ponho o pé na rua.

Para esta experiência, estou munido apenas do meu telefone e da carteira, não tenho trotinetes disponíveis, nem bicicletas elétricas, nem nenhuma outra opção semelhante na zona onde habito e na qual não sou o único a morar. Há transportes relativamente próximos, mas que me levam para o sentido inverso antes de mudar para a direção de onde quero efetivamente ir, com a desvantagem de passarem apenas de 30 em 30 minutos e em apenas dois turnos durante o dia. Ou seja, a solução imediata mais prática, é mesmo continuar a levar o carro, ou a chamar um TVDE para um destino intermédio.

Se optar pelos transportes públicos, nos turnos de maior tráfego, tenho um comboio de 10 em 10 minutos, mas que não me leva ao destino. Leva-me a outro comboio, ou ao metro, e termina com uma deslocação a pé entre a zona do Intendente e o Campo dos Mártires da Pátria que, tal como muitos sabem, não é muito longe, mas é a subir e a preguiça é tramada.

Ou seja, em média, e segundo o Google, demoro cerca de hora e meia a chegar ao Campo dos Mártires da Pátria de transportes. Que, apesar de tudo, seria praticamente o que demoraria de carro, uma vez que depois dos 25 minutos de deslocação, demoraria o resto do tempo a encontrar um lugar de estacionamento. E sim, eu sei que há um parque, mas também sei quanto custa.

Numa outra experiência que fiz recentemente, depois de um jantar junto ao Padrão dos Descobrimentos, a facilidade com que usamos as novas soluções pode nem sempre ser simples, a menos que esteja tudo configurado para quem já usa regularmente.

Nessa zona de Lisboa, é difícil não encontrar uma trotinete elétrica disponível, por entre vários operadores, cada um com a sua aplicação. E foi nesse momento que me lembrei de em tempos ter alguns euros disponíveis para um teste numa dessas mesmas aplicações.

Enquanto as pessoas com quem estava foram andando a pé, para ajudar a iniciar a digestão do jantar, eu fiquei a instalar a aplicação novamente, a tentar recuperar a minha conta (e o saldo), para poder experimentar finalmente uma destas novas trotinetes. Só que não consegui.

Com as aplicações ativas e configuradas, muitas destas soluções ficam imediatamente disponíveis e são simples de utilizar, mas o que eu acho é que a forma de levar a maior quantidade de gente a experimentar, ainda não existe. O primeiro passo é o principal problema. O aderir a novas soluções e experimentar coisas novas, ainda é dos maiores entraves para uma grande percentagem de pessoas. Acima de tudo, o primeiro passo tem de ser simples e muito prático, pois a preguiça, muitas vezes, inibe a vontade de sequer querer experimentar.

Concebido logo após o 25 de abril de 1974 e nascido em Lisboa, refugiou-se na Ajuda para passar o seu primeiro quarto de século. Quando a família cresceu, mudou para a outra margem do Tejo e foi viver para perto da praia e para longe do trânsito. Já teve dois filhos, plantou uma árvore e escreveu milhões de carateres desde que entrou no mundo do jornalismo automóvel há mais de 20 anos, porque conduzir é uma das suas maiores paixões.

 

 André Mendes, escreve esta crónica a convite da AWAY Magazine.

 

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