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Mais de 150 mortos em 32 anos. Obras no IP3 resolvem o problema?

O IP3 vai ser requalificado e 85% do traçado passa a ter perfil de autoestrada, até 2027
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O Itinerário Principal 3 (IP3) vai finalmente conhecer obras nos 75 quilómetros que ligam os municípios de Coimbra e Viseu, passando em 85% da sua extensão a contar com um perfil de autoestrada. A obra é para concluir até 2027, mas as vozes de discórdia são muitas e a sinistralidade tem sido um forte problema, com a agência Lusa a fazer as contas: 150 mortos em 32 anos.

O Ministro das Infraestruturas, João Galamba, anunciou que o IP3 irá passar a ter, em 97% da sua extensão, via dupla (duas faixas em cada sentido, perfil de autoestrada) ou um mais dois (três faixas alternadas). E a via dupla em 85% de todo o IP3.

As obras, inteiramente financiadas pelo Orçamento de Estado sem apoios europeus, terão início já em 2024 num troço de 28 km entre Santa Comba Dão e Viseu, atravessando o município de Tondela, em investimento anunciado de 130 milhões de euros. Mais tarde, arranca para os troços de Sousela e Penacova (distrito de Coimbra) e entre Penacova e Santa Comba Dão (Viseu).

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IP3 vai para obras em 2024 (foto: Paulo Novais/Lusa)

Ainda de acordo com João Galamba, esta obra avança com esta calendarização porque o primeiro troço é aquele onde se regista maior sinistralidade e deixa a porta aberta para que as obras possam prolongar-se até 2029, se os autarcas da região assim quiserem, de forma a minimizar o impacto na circulação rodoviária.

Autarcas não querem esta obra, querem uma autoestrada!

O Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, José Manuel Silva, desafia os colegas autarcas da região e de Viseu para se juntarem num protesto, com corte da A1 e da Linha do Norte, como forma de pressão para que o IP3 seja transformado em autoestrada.

O autarca defende o prolongamento até ao IP3 da autoestrada do Pinhal Interior (A13), que faz a ligação entre a A23, no Entroncamento, e também o prolongamento da A14 (Figueira da Foz-Viseu), incorporando assim o atual troço de 75 quilómetros do IP3 numa verdadeira autoestrada.

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As obras no IP3 podem-se prolongar até 2029 (foto: Paulo Novais/Lusa)

Fernando Ruas, autarca de Viseu recorda o histórico do IP3 discorda do atual traçado e do calendário da obra (deveria ocorrer onde há maiores problemas atualmente), tendo anunciado que pretende reunir com autarcas de Coimbra para definir formas de pressão.

Também o presidente da Câmara de Penacova lembra que o IP3 nasceu torto, com elevados níveis de sinistralidade desde o primeiro minuto e nem o separador central em betão (colocado no final da década de 1990) tem conseguido eliminar o problema.

Mais de 150 mortos no IP3 desde 1991

Os dados recolhidos pela Lusa (junto da Autoridade Nacional de Segurança Rodoviária - ANSR e Guarda Nacional Republicana - GNR, cruzando com dados da antiga Direção Geral de Viação - DGV) permitem aferir que desde que a via IP3 foi inaugurada em 1991 já morreram mais de 150 pessoas.

Os números oficiais não coincidem entre as várias entidades, mas as metodologias de contabilização de mortos têm vindo a mudar nos últimos anos o que provoca discrepâncias entre os números conhecidos.

Nos primeiros seis meses de 2023, e de acordo com informação recolhida pela Lusa, a ANSR não tem registo de vítimas mortais no percurso total do IP3, enquanto a GNR assinala três acidentes no distrito de Viseu (com um morto e quatro feridos graves) e 58 acidentes em Coimbra, com dois feridos graves.

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Álvaro Miranda, Associação Utentes e Sobreviventes do IP3 (foto: Paulo Novais/Lusa)

A respeito da sinistralidade, Álvaro Miranda, da Associação de Utentes e Sobreviventes do IP3 apela à requalificação urgente do traçado. O dirigente refere que a colocação do separador central permitiu uma diminuição de acidentes com vítimas mortais. Mas, refere Álvaro Miranda, é justamente nas zonas onde esse separador não existe (distrito de Viseu) que se continua a assistir a acidentes.

“Nós exigimos a requalificação integral de todo o IP3, em perfil de autoestrada, mas sempre sem portagens. Para melhorar as condições de tráfego e as condições de segurança de todos os utentes que circulam nesta via”, frisou em declarações à Lusa.

O dirigente associativo notou ainda que o tráfego no IP3 – via que faz a ligação ao interior Centro e à fronteira de Vilar Formoso – é constituído por muitos veículos pesados de mercadorias, e que, à data de hoje, também devido ao encerramento para obras da linha ferroviária da Beira Alta, circulam naquele Itinerário Principal cerca de 18 mil viaturas diárias.

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