O Dia Europeu sem Carros celebra-se anualmente a 22 de setembro, no culminar da Semana Europeia da Mobilidade, iniciativa apadrinhada pela União Europeia desde o ano 2000 depois de inicialmente lançada em França em 1998.
A mobilidade é um tema em discussão permanente e não é uma preocupação nova das sociedades, embora algum poder político goste de afirmar que é um dos seus principais focos de atenção.
Mas há medida que o planeta cresce em população e as alterações climáticas fazem sentir com maior intensidade, a mobilidade tem sido, de facto, um tema em destaque. É preciso pensar em mobilidade descarbonizada e mais saudável não apenas para o planeta, mas para cada um de nós.
Para os europeus a mobilidade é algo díspar porque a realidade daquilo que é oferecido às populações das grandes metrópoles ou de regiões metropolitanas como Lisboa ou Porto é infinitamente diferente daquilo que é oferecido a quem vive em regiões do interior. Fora da Europa a assimetria é ainda mais gritante. Descontando o norte da América e uma boa parte da Ásia, todo o resto do mundo está a anos luz de ter a sua mobilidade básica assegurada.
Em Portugal esta assimetria é bastante sentida. Uma aposta continuada durante décadas no alcatrão com portagens em detrimento de ferrovias com ligações acessíveis e práticas colocou-nos bem atrás no pelotão da mobilidade europeia. Anúncios de que isso irá ser alterado fomos ouvindo muitos, mas o atraso é grande. E não é só isso.
Recentemente a criação do passe Navegante (Lisboa) e Andante (Porto) permitiram a praticamente 50% da população residente em Portugal ter acesso com um pagamento mensal a várias formas de mobilidade interligadas. Mas e o resto do país? Como podem as populações ter acesso às mesmas comodidades do litoral com horários de transporte que lhes limitam a vida em permanência? Há assimetrias evidentes.
Mas será que se consegue viver sem o carro nas cidades?
A verdade é que exemplos vários mostram que ainda temos um longo caminho a percorrer. Construíram-se linhas de comboio, metro, ligações de autocarro, mas… e para chegar às estações? Há estações fora do centro das cidades onde na verdade só é mesmo possível chegar de carro...
Grande parte das estradas nacionais não permitem circulação segura de bicicleta, mesmo que essa fosse uma das opções para trajetos mais curtos. É preciso afirmar isto olhando para exemplos na Holanda, Alemanha ou outros, onde até a regra da prioridade é favorável aos ciclistas.
Nascem ciclovias um pouco por todo o lado, mas a verdade é que muitas parecem apenas existir para contar quilómetros, não tem trajeto assegurado até às principais estações e mesmo os percursos em cidade parecem apenas pensados para turista e não para quem possa utilizar em deslocação diária.
A realidade é que para se conseguir viver sem carro é necessário viver e trabalhar em zona amplamente servida de transportes públicos com horários adaptados às necessidades da população. Se tivermos o azar de viver em qualquer zona de periferia as soluções são muito escassas.
O carro vai ser necessário durante muitos e longos anos.