Cozinhar com fogão a gás pode ter impactos negativos na saúde, especialmente nas crianças, uma vez que estes eletrodomésticos muitas vezes violam as normas de poluição atmosférica. O alerta é deixado por várias organizações não-governamentais internacionais num novo relatório.
Intitulado “Expondo os impactos desconhecidos na saúde de cozinhar com gás”, o relatório alerta que 35% dos cidadãos da União Europeia (UE) estão expostos à poluição provocada pelo gás de cozinha e que 12% dos casos de asma infantil na Europa são provocados pelos aparelhos de cozinha a gás.
Em Portugal, a poluição por gás é responsável por perto de 10 mil casos de asma em crianças.
Ainda assim, de acordo com dados publicados no relatório, em países como Espanha, França ou Itália há mais incidência de asma associada a aparelhos de cozinha a gás já que há mais famílias a utilizar estes eletrodomésticos.
O ato de cozinhar a gás numa cozinha típica dos países do sul da Europa, sem ventilação mecânica, faz com que fique no interior das casas níveis de dióxido de azoto muitas vezes superior ao estabelecido nas diretrizes de qualidade do ar da Organização Mundial de Saúde (OMS) e nas normas de poluição atmosférica da União Europeia (UE).
Apesar de serem as crianças as mais afetadas, também a saúde dos adultos sofre, havendo impacto ao nível do sistema nervoso e respiratório.
Os responsáveis pelo relatório referem que a situação poderá piorar este inverno já que, devido à crise energética, muitas pessoas poderão reduzir a ventilação das casas para não arrefecerem e não gastarem dinheiro no aquecimento.
E se não houver gás natural para todos os países no próximo inverno?
“A política da UE não protege as pessoas contra os perigos da cozinha a gás”, alertam os autores do relatório, citados pela Lusa. Recomendam, assim, à Comissão Europeia que criem medidas que protejam as famílias, como a criação de limites poluentes e a criação de um Rótulo Energético onde se comunique os perigos da cozinha a gás.
Hidrogénio verde como alternativa para o gás na cozinha?
Numa altura em que tanto se fala no hidrogénio verde – produzido a partir de fontes renováveis – como uma possível alternativa sustentável para vários ramos, o relatório alerta que não será um substituto do gás.
Isto acontece pois seria essencial substituir a canalização, algo que demoraria muito tempo e implicaria um investimento avultado. Além disso, os fogões teriam de ser adaptados ou mesmo substituídos e a mistura de hidrogénio e gás poderá aumentar os níveis de poluição em vez de os diminuir.
O relatório é da autoria da CLASP, uma organização internacional que promove a eficiência energética, e da Aliança Europeia de Saúde Pública (EPHA) que junta várias organizações europeias há quase cem anos. Conta com dados de testes feitos pela organização dos Países Baixos para a Investigação Científica TNO.