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Automobile Club de France: 126 anos a não aceitar membros do sexo feminino

O clube de automóveis mais antigo do mundo tem 126 anos de história e mantém a regra original de aceitar apenas homens
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Automobile Club de France não aceita membros do sexo feminino
Automobile Club de France não aceita membros do sexo feminino

Num momento em que muitos dos principais cargos da indústria automóvel são ocupados por mulheres, o Automobile Club de France (ACF), com 126 anos de história, apenas tem membros do sexo masculino. O L’Auto, como também é conhecido, e o seu presidente, Louis Desanges, de 74 anos, continuam apostados em manter as suas tradições de savoir-faire, discrição e filiação privilegiada.

Aliás, o presidente do Automobile Club de France continua mesmo determinado em manter as mulheres fora da sua lista de membros, afirmando que, até agora, nenhuma conseguiu aderir porque o processo requer o apoio de dois membros existentes e isso não será possível. “E isto não mudará enquanto eu for presidente”, acrescentou. Desanges diz ainda:

“Sinto que cerca de três quartos dos cerca de dois mil membros do clube não querem que isto mude, e eu sou demasiado democrático para impor algo que eles não querem. Temos outras oportunidades para nos encontrarmos com mulheres em Paris."

Automobile Club de France em 1898

Na opinião de Elisabeth Young, que trabalha no setor automóvel há mais de 30 anos e é cofundadora e presidente da Women and Vehicles in Europe (WAVE), “ter um clube como este, preso no século XIX e fechado às mulheres, desvaloriza todos os esforços feitos pela indústria em fazer com que as mulheres tivessem os mesmos direitos. É um símbolo prejudicial que projeta a imagem de uma indústria automóvel que é preservada apenas por homens. Para a indústria, o ACF é mais do que um simples clube social, uma vez que acolhe diversos eventos, reuniões e conferências sobre automóveis. É uma ferramenta poderosa num cenário incrivelmente bonito. Porquê excluir as mulheres?"

O que acaba por ser caricato é que a exclusão das mulheres não está escrita nos estatutos de L'Auto. Em vez disso, a tradição dita apenas que nunca seja proposta nenhuma adesão, tal como refere Desanges.

Aliás, as mulheres podem estar presentes como convidadas, pedir emprestados os livros da biblioteca, assistir a eventos e almoçar com os amigos, mas não têm acesso a algumas das áreas designadas, tais como a famosa piscina subterrânea que existe nesta incrível mansão da Place de la Concorde, um lugar enigmático de Paris, com vista para o Rio Sena.

Um dos momentos que marcou a presidência de Louis Desanges ocorreu em 2019, quando Carlos Ghosn renunciou ao cargo de CEO da Renault por ter sido detido em Tóquio e foi escolhida Clotilde Delbos como CEO interina. A tradição do clube passa por ceder uma filiação honorária aos responsáveis máximos das empresas de automóveis francesas, mas, desta vez, ele não o podia fazer.

"Poderíamos ter-lhe dado um cartão concedendo-lhe os mesmos direitos que a esposa de um membro", disse Desanges, “mas até isso teria sido uma estreia". Clotilde Delbos acabou por ser rapidamente substituída por Luca de Meo e este recebeu de imediato o seu cartão de membro.

(Montagem com foto Automobile Club de France, fotos Jules Beau e C. Karidis/Unsplash)

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