O preço dos combustíveis vai ter uma ligeira descida na próxima segunda-feira, mas a evidência demonstrada nas últimas semanas vai manter-se: o preço do gasóleo irá continuar superior ao preço da gasolina. Mas porquê?
Mais estranho pode parecer o não arrefecimento dos preços dos combustíveis quando se percebe que a cotação do petróleo Brent de referência ao mercado europeu e nacional fechou na passada sexta-feira, dia 23 de setembro, a valer 85,54 dólares por barril. Bem abaixo da fasquia dos 100 dólares e longe dos máximos que já este ano rondou. Mas isto não explica a diferença de preço entre gasóleo e gasolina.
Previsão AWAY do preço dos combustíveis para a próxima semana
Historicamente o preço do gasóleo em Portugal é, há muitos anos, mais baixo do que o preço da gasolina porque o Estado taxa de forma superior a gasolina, favorecendo o consumo de gasóleo, necessário para a indústria, transportes e comércio. É bom de recordar que em Portugal todos os transportes rodoviários e alguns ferroviários públicos utilizam gasóleo.
O grande problema para o consumidor final é que essa decisão levou a que milhares de portugueses tenham optado, também historicamente, por comprar automóveis a gasóleo e agora estão com um problema sério. Mesmo com os impostos sobre o gasóleo mais baixos a verdade é que, neste momento o mercado não reflete isso.
De acordo com dados da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) o preço do gasóleo disparou acima do preço da gasolina desde 28 de agosto com uma diferença média de 10 cêntimos por litro.
Mesmo com as previsões que a AWAY avançou para a próxima semana, o preço do gasóleo deverá ficar, em média, 1,745 euros por litro e o preço da gasolina, em média, poderá alcançar 1,688 euros por litro.
A confirmar-se a nossa previsão o gasóleo irá estar mais caro do que a gasolina entre 5 a 6 cêntimos por litro.
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Mas então porque é que o gasóleo está com um preço mais elevado do que a gasolina?
Se estás a pensar que ambos são produzidos a partir do petróleo e que isto não deveria acontecer, começamos por aí mesmo. É verdade que o Brent é a base para ambos os combustíveis (entre outros), mas depois de vir das explorações petrolíferas este tem de passar por um processo de refinação.
O combustível com que atualmente atestas o teu carro tem maioritariamente origem na única refinaria atualmente existente em Portugal, em Sines. Depois tens combustíveis com origem em refinarias, como por exemplo de Espanha. Aí temos uma primeira diferença. Em toda a Europa há refinarias mais adaptadas para produzir gasóleo e outras privilegiam a gasolina.
Mas a pandemia primeiro em 2020/21 e a guerra na Ucrânia já em 2022 veio revelar um problema. É que grande parte da refinação visa consumo industrial e isso significa gasóleo. Com a quebra de fornecimento de matérias primas e as sanções impostas à Rússia, o custo dessas matérias tem vindo a subir. E onde está a ter maior impacto? Exatamente onde há maior procura, no gasóleo.
À questão do preço das matérias primas junta-se as margens de refinação. Vários analistas têm alertado de que se os preços de refinação continuarem a subir poderemos ter um sério problema no inverno e início do próximo ano. Até por causa de outro fator: é que em 2023 terão lugar sanções mais graves à Rússia no que respeita aos combustíveis.
Lê aqui: Guerra na Rússia pode provocar rutura na produção de gasóleo em Sines
A tudo isto junta-se a crise energética. Muitas empresas que poderiam compensar algum consumo de combustível avançando para a eletricidade ou gás, estão agora a braços com crise similar com aumento de custos igualmente elevados que limitam as opções.
Curiosamente, se as empresas tiverem dificuldades e existir abrandamento da economia, poderá existir um abaixamento da procura pelo gasóleo e… poderá voltar a baixar o preço.
O futuro tem assim uma grande dose de incerteza.