Foram semanas de dúvidas e questões face à postura da Índia em relação à crise climática e aos objetivos para travar o aquecimento global. Será que o primeiro-ministro da Índia iria apresentar novas contribuições nacionais durante a COP26 ou iria manter as propostas do Acordo de Paris? Será que o país asiático iria apresentar uma data para atingir a neutralidade carbónica?
Logo nos primeiros dias, houve respostas para estas e mais perguntas quando o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, apresentou as cinco grandes metas do país na luta contra as alterações climáticas, na Cimeira do Clima, em Glasgow.
Pela primeira vez, a Índia, que é o terceiro país mais poluente do mundo, estando atrás dos Estados Unidos e da China, comprometeu-se em atingir a neutralidade carbónica até 2070, dez anos depois da China.
O objetivo foi bem recebido por muitos, entre eles Boris Johnson, primeiro-ministro britânico. Mas, de acordo com a Reuters, vários cientistas dizem que a neutralidade carbónica da Índia deveria chegar duas décadas antes.
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Foram os outros quatro objetivos da Índia que despertaram maior curiosidade. O país propõe-se a aumentar a sua capacidade energética de fontes renováveis para 500 giga watts até 2030, ou seja, mais 50 giga watts do que o que foi apresentado em 2015, no Acordo de Paris. Também até 2030, a India pretende que 50% do seu consumo energético seja de energias não-fósseis, como a eólica e a solar.
Pela primeira vez, a Índia comprometeu-se em reduzir em mil milhões de toneladas as emissões de carbono até 2030. De acordo com o World Resources Institute, as emissões da Índia, em 2018, foram de 3 mil milhões de toneladas e projetava-se que deverão subir para 4 mil milhões de toneladas por ano até 2030.
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Por fim, o último compromisso apresentado pelo primeiro-ministro foi, até 2030, a diminuição em 45% das emissões por unidade de atividade económica face aos valores de 2005.
“Hoje, o mundo reconhece que a Índia é a única grande economia mundial que cumpriu 'na letra e no espírito' os seus compromissos de Paris. Estamos a fazer todos os esforços possíveis”, referiu Narendra Modi, acrescentado que o país tem 17% da população mundial, mas é apenas responsável por 5% das emissões.
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Os compromissos que a Índia fez na COP26 não têm apenas um grande impacto para o mundo, têm também localmente. De acordo com a BBC, o país asiático tem a pior qualidade de ar, sendo que 22 das 30 cidades mais poluídas do mundo estão na Índia. Em 2019, a concentração média de partículas no ar no país era de 70,3 µg/m³, sendo que a Organização Mundial de Saúde recomenda 10 µg/m³.
Um estudo publicado pela revista científica de medicina The Lancet diz que, em 2019, a poluição atmosférica foi responsável por 1,7 milhões de mortes prematuras na Índia, valor que representa 18% dos óbitos no país.
Deli, a capital, durante o inverno torna-se uma das cidades mais poluídas do mundo e a cidade fica coberta por um nevoeiro denso e carregado de partículas tóxicas que provocam problemas de pulmões e de coração segundo a The Lancet.
Como avançado pela Reuters, nas últimas semanas têm-se respirado o melhor ar dos últimos quatro anos em Deli por causa das chuvas e ventos que têm limpado a atmosfera. Mas a mudança é temporária e espera-se que os níveis voltem a subir nas próximas semanas, como acontece todos os invernos.
(Fotos: Convenção Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas/Flickr, Karwai Tang/ Governo do Reino Unido e Unsplash)