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Uber usou violência contra motoristas para promover negócio em Portugal

Investigação jornalística mostrou que antigo CEO da Uber queria que motoristas da empresa fizessem frente a taxistas
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Uber (Foto: S. Wenig/AP)
Uber (Foto: S. Wenig/AP)

A Uber terá usado a violência contra os seus motoristas para promover a imagem da empresa e conseguir cedências por parte dos governos dos países onde estava a operar, incluindo Portugal. A informação foi revelada pela investigação Uber Files, conduzida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas de Investigação (ICIJ, na sigla em inglês).

A investigação, que envolveu 40 meios de comunicação em 29 países, analisou mais de 124 mil documentos e descobriu que, entre 2013 e 2017, o então CEO, Travis Kalanick, terá enviado várias mensagens a validar e até a promover que os motoristas da Uber fizessem frente aos taxistas ainda que isso pudesse pôr em risco a sua integridade física.

Portugal surge na investigação como sendo um dos exemplos desta prática de exploração de violência. O episódio analisado terá ocorrido em 2015 quando taxistas cometeram atos de violência contra condutores de Uber em três ocasiões.

Protestos em Portugal, em 2015, contra Uber (Foto: A. Franca/AP)

De acordo com a Lusa, o então gestor da Uber em Portugal, Rui Bento, terá enviado um e-mail a colegas a dizer que a empresa estava a pôr a hipótese de apresentar a informação dos ataques e dos ferimentos aos meios de comunicação locais, na altura em que a ANTRAL, a maior associação de taxistas em Portugal, procurava contrariar a estratégia de expansão da Uber.

O objetivo seria “criar uma ligação direta entre as declarações públicas de violência do presidente da ANTRAL (Florêncio Almeida) e estas ações, para degradar a sua imagem pública”, refere a Lusa, citando mensagens enviadas por Rui Bento.

A investigação da ICIJ referiu ainda outros casos semelhantes, como os ocorridos na Suíça, onde um violento ataque de um taxista em Genebra contra um motorista da Uber foi analisado como tendo potencial para ajudar a obter benesses do Governo de Berna.

A investigação de jornalistas também identificou que altos cargos da Uber terão pedido que se tomassem medidas para que não fossem encontradas provas da ilegalidade das suas operações, numa altura em que sabiam que a operação era ilegal ou pelo menos questionável do ponto de vista jurídico em vários países.

Lóbi político da Uber

A investigação da ICIJ também terá concluído que a Uber recorreu a lóbi político junto de governos para expandir o negócio, numa teia que envolveu magnatas dos meios de comunicação, primeiros-ministros, ministros, funcionários governamentais e oligarcas.

A rede de influência identificada incluiu nomes sonantes como do atual Presidente francês, Emmanuel Macron, que, enquanto era ministro da Economia, foi apanhado em conversas com o antigo CEO da Uber a prometer a proteção do seu Governo contra a campanha dos taxistas franceses à Uber.

Joe Biden, Presidente EUA (Foto: C. Kaster/AP)

Outro nome que também sobressai é o de Joe Biden, agora Presidente dos Estados Unidos, que, na altura em que era vice-Presidente de Barack Obama, terá reunido várias vezes com Travis Kalanick, tendo protegido os interesses da organização.

A Uber já reagiu à investigação Uber Files através de uma porta-voz, Jill Hazelbaker, tendo reconhecido que a empresa terá cometido erros e falhas, mas que estas práticas terão terminado quando Travis Kalanick foi substituído pelo atual CEO da empresa, Dara Khosrowshahi.

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